Triagem do Processamento Auditivo
Processamento Auditivo
O Processamento Auditivo consiste na análise da informação auditiva no sistema nervoso central e na atividade neurobiológica de um conjunto de capacidades auditivas. Permite-nos processar a informação auditiva e interpretar o que ouvimos. Desenvolve-se desde os primeiros anos de vida e vai amadurecendo ao longo do tempo, variando de acordo com as experiências auditivas vividas.
Para ouvirmos na perfeição, necessitamos, então, de uma via auditiva que consiga detetar, discriminar, reconhecer, organizar, memorizar e compreender toda a informação auditiva.
Capacidades Auditivas e Sua Importância
Localização Sonora: Localizar quem nos chama, manter o foco numa pessoa a falar e evitar alguns perigos (ex.: um carro).
Resolução Temporal: Perceber semelhanças e diferenças entre letras com sons parecidos (ex.: /f-v/ e /t-d/), não juntar ou separar palavras indevidamente ao escrever, compreender discursos longos e entender e falar línguas estrangeiras.
Figura-Fundo: Compreender o outro quando existem conversas ou ruídos em simultâneo (ex.: manter o foco na professora apesar do barulho).
Fechamento Auditivo: Entender a fala distorcida (ex.: telefonema com cortes) ou abafada (ex.: alguém a falar com máscara).
Integração Binaural: Prestar atenção a dois sons ou a duas pessoas ao mesmo tempo sem esforço (ex.: estar a ouvir a professora e ter o colega do lado também a falar).
Separação Binaural: Focar a atenção na tarefa/conversa mais importante (ex.: da professora).
Dicótico Sequencial: Seguir instruções ou recordar pedidos ditos oralmente.
Ordenação Temporal: Produzir todos os sons da fala, compreender e produzir frases, identificar sílabas tónicas, adequar a velocidade e a expressividade da fala, inferir o significado do tom de voz e cantar afinado.
Alterações no Processamento Auditivo
As alterações no processamento auditivo, geralmente, ocorrem quando existem limiares normais de audição, ou seja, não se centram na capacidade de “ouvir”, mas na capacidade de “compreender” a informação ouvida.
Prevalência
Estudos recentes estimam que cerca de 20% das crianças/jovens têm dificuldades no desenvolvimento do processamento auditivo. Trata-se de uma taxa elevada de prevalência, mais ainda se tivermos em conta que muitas das crianças/jovens sofrem com este problema e não possuem um diagnóstico clínico que as leve até à reabilitação.
Comorbilidade
As alterações no processamento auditivo podem ou não coexistir com outras dificuldades, tais como Perturbação Específica da Aprendizagem (Dislexia) ou Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção(PHDA). Contudo, por vezes, podem ser confundidas ou “mascaradas” por estas e outras perturbações(que partilhem as mesmas caraterísticas) e até mesmo serem atribuídas a um desinteresse da criança/jovem em aprender. Assim, é fundamental proceder à realização de um diagnóstico diferencial, avaliando-se o processamento auditivo da criança/jovem.
Etiologia
A etiologia das alterações no processamento auditivo é, geralmente, idiopática, isto é, desconhecida. Porém, existem fatores que podem ser desencadeantes, tais como:
- Otites recorrentes nos primeiros anos de vida (mesmo as que não dão sintomas), pois provocam uma privação sensorial que pode alterar a maturação das vias auditivas centrais e o próprio processo de organização da informação auditiva;
- Fatores hereditários;
- Complicações peri e pré-natais;
- Problemas na neuro-maturação do sistema auditivo.
Sinais de Alerta
A família e os profissionais que acompanham a criança/jovem devem procurar ajuda especializada se detetarem dificuldades em:
- Adquirir e desenvolver a linguagem oral, a leitura e/ou a escrita;
- Produzir alguns sons da fala (ex.: /r/ e /l/);
- Discriminar auditivamente os sons da fala;
- Compreender a fala na presença de ruído;
- Realizar tarefas de sílabas/sons e de soletração;
- Manter a atenção;
- Seguir instruções;
- Recordar uma informação ouvida;
- Localizar a origem do som.
Triagem do Processamento Auditivo e Treino Auditivo
No Consultório Espaço Crescer, perante a identificação de algum dos sinais de alerta anteriores, a criança/jovem poderá realizar uma Triagem do Processamento Auditivo, desenvolvida por uma Terapeuta da Fala com formação especializada e experiência na área, no sentido de se aferir a existência de alterações ao nível do processamento auditivo que possam comprometer o desenvolvimento pleno da fala, da linguagem oral, da leitura, da escrita e/ou das restantes aprendizagens. No caso de se identificarem dificuldades, é depois possível delinear-se um plano terapêutico específico e individualizado a cada caso para que seja realizado Treino Auditivo.
As dificuldades no âmbito do processamento auditivo não se resolvem sem uma intervenção específica. A permanência deste problema no dia-a-dia de uma criança/jovem condiciona o sucesso das suas aprendizagens. Pode, inclusive, persistir em idade adulta, condicionando as suas oportunidades pessoais/sociais e profissionais.