Hoje falamos sobre a importância de estarmos ou reaprendermos a estar em relação connosco como um aspeto necessário à autoestima, onde que emoções e pensamentos convivem lado a lado.
A relação com o Eu
Se podemos dizer que sentirmo-nos ouvidos e estarmos disponíveis para ouvir são duas condições importantes para uma relação satisfatória e investida; podemos dizer também que para não descuidarmos a relação connosco próprios é preciso escutar e atender ao nosso mundo interno.
No entanto, da mesma forma que às vezes podemos ser mais distraídos com os que mais amamos ou senti-los como mais desatentos com o que gostaríamos que fossem os primeiros a perceber; também acontece descuidarmo-nos na relação com nós próprios. E sobretudo se estamos pouco habituados a olhar para dentro, ou seja, a dar atenção e valor ao que sentimos e precisamos. Por isso, face a um sentimento de insatisfação com a vida, com as relações ou com caraterísticas próprias, talvez seja preciso reaprendermos a cuidar de nós, de uma forma diferente daquela a que nos habituámos e, às vezes, a diferente daquela a que fomos habituados.
E quando queremos cuidar-nos de forma diferente, mas por alguma razão que não se entende, não conseguimos mudar? E quando, a par disso, até vivemos a repetição do mesmo tipo de problemas na vida, acompanhados de sentimentos dolorosos ou conflitos internos que já se tornaram familiares?
A transformação é possível quando se está disponível para a aprendizagem e para a alteração de um determinado estilo cognitivo (forma de pensar adquirida através de associações que fomos fazendo entre experiências e emoções) que nos orienta. Mas apesar da capacidade para aprender ser inerente ao ser humano, esta pode ficar comprometida na presença de um contexto emocional negativo (Spitzer, 2007).
Mudarmos a forma como pensamos e aprendermos a cuidar de nós pode tornar-se difícil quando temos impedimentos, como medos associados – por exemplo, quando o medo de desiludir alguém ou de se ser rejeitado explica a dificuldade em valorizar as próprias necessidades na relação com o outro. Neste sentido, sabe-se que o medo e a ansiedade, a longo prazo, comprometem a descentração do pensamento, a aprendizagem associativa, e a capacidade para aguentar a incerteza e os sentimentos desagradáveis (Spitzer, 2007). Por isso, compreender o que nos causa mal-estar ou o que nos impede de mudar poder ser, às vezes por si só, transformador.
Entender o que me incomoda
Face a situações emocionalmente desafiantes que provocam sentimentos dolorosos difíceis de tolerar, cada indivíduo encontra a forma que lhe é possível, em determinado contexto e com os recursos disponíveis, para lidar com esses sentimentos difíceis.
Às vezes, evitar a vivência do sentimento difícil é a forma possível, de modo a conseguir-se manter funcional. No entanto, quando esta forma de lidar com os sentimentos vai sendo privilegiada ao longo da vida (muitas vezes, de modo inconsciente), a longo prazo não experienciar e entender as emoções e os sentimentos pode comprometer a capacidade para os gerir e dar, gradual e eventualmente, origem a sintomas.
De notar que sintoma ou queixa não é em si a origem do mal-estar, mas a expressão de uma dificuldade que espera resolução.
Face a uma problemática semelhante, existem formas distintas de com ela lidar e também sintomas diferentes. Por exemplo, podemos ter um funcionamento depressivo presente em duas pessoas que o expressam de forma diferente, desde a vivência de falta de motivação e de falta de prazer nas atividades diárias, a um privilégio pela ação e dificuldade em estar sozinho.
Neste sentido, também um mesmo sintoma poderá ter significados diferentes em cada um. A persistência de sentimentos recorrentes de impaciência e irritação, o medo de andar de elevador, alterações do comportamento alimentar, enurese noturna, etc., podem ser, cada uma, uma queixa comum com explicações diferentes. Por exemplo, ranger os dentes durante o sono num indivíduo pode expressar sentimentos de zanga não pensados ou postos em palavras, enquanto noutro pode significar uma preocupação a ser “mastigada” (Janov, 1970).
Assim, entenda-se que um desenvolvimento emocional saudável inclui viver tanto os sentimentos agradáveis, como os dolorosos que o contexto ou os próprios pensamentos possam em nós despertar, para que não tenham de ser recorrentemente revividos e possam em nós habitar de forma harmoniosa, com lugar na sua origem.
Desta forma, para cuidarmos da nossa saúde mental, é importante estar em relação com o nosso mundo interno, sentindo e pensando sobre o que sentimos.
Contudo, fazê-lo pode não ser fácil, sobretudo se não estamos habituados, ou não conseguimos sair do mal-estar, ou as defesas à dor estruturam o nosso funcionamento. Pela dificuldade que envolve, para resolver o que nos incomoda e cuidarmos de nós, pode ser necessária a ajuda de um profissional adequado.
Questões para pensar
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Na relação com os outros
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