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"Ouvir bem, mas compreender mal” - Processamento Auditivo Central
Tânia Santos, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 14 de fevereiro de 2020

Sistema Auditivo

O sistema auditivo é constituído pelo sistema auditivo periférico e pelo sistema auditivo central. A parte periférica é dividida pelo ouvido externo, pelo ouvido médio e pelo ouvido interno. A porção central inicia-se na primeira sinapse entre as fibras nervosas provenientes da cóclea (que se encontra no ouvido interno) e estende-se até ao córtex auditivo (que se encontra no cérebro).

 

Processamento Auditivo e Perturbação do Processamento Auditivo

Para ouvir um som na sua perfeição, o indivíduo necessita de uma via auditiva que consiga detetar, discriminar, reconhecer e compreender toda a informação auditiva. Para que isto ocorra na sua plenitude, a pessoa terá de, para além de detetar um som, ser capaz de processar a informação auditiva e, assim, conseguir compreender o que ouve. Todo este processo ocorre sobretudo no sistema auditivo central. Quando existe dificuldade em alguma(s) desta(s) fase(s), poderemos estar perante uma Perturbação do Processamento Auditivo.

De realçar, que esta perturbação se pode verificar em casos em que existem limiares normais de audição, ou seja, em casos em que o indivíduo perceciona bem todos os sons, nas várias frequências e intensidades. A dificuldade numa Perturbação do Processamento Auditivo não se centra na capacidade de “ouvir”, mas sim na capacidade de “compreender” a informação auditiva.

Perturbação do Processamento Auditivo

Etiologia e Prevalência

Por norma, a causa da Perturbação do Processamento Auditivo é desconhecida. No entanto, vários estudos apontam para alguns fatores que podem estar relacionados, nomeadamente: complicações perinatais ou pré-natais, otites médias crónicas, problemas na neuro-maturação do sistema auditivo, atrasos de fala/linguagem.

Estima-se que, em Portugal, a Perturbação do Processamento Auditivo atinge cerca de 5% das crianças em idade escolar (Nunes, 2015).

 

Sintomas e Características Associados

Segundo Chermak (2001) e Nunes (2015), alguns sintomas e características frequentemente observados em pessoas com Perturbação do Processamento Auditivo são:

  • Pedidos frequentes de repetição e/ou reformulação da informação;
  • Respostas inconsistentes ou inadequadas aos pedidos de informação;
  • Perturbação na linguagem expressiva e/ou compreensiva;
  • Dificuldade em:
  • Compreender a fala na presença de ruído;
  • Localizar as fontes sonoras;
  • Compreender o que se fala ao telefone;
  • Compreender quando o interlocutor fala rápido;
  • Seguir direções;
  • Detetar mudanças subtis na prosódia que indicam humor ou sarcasmo;
  • Manter a atenção;
  • Discriminar auditivamente os sons da fala;
  • Manipular, memorizar ou relembrar fonemas (ex.: tarefas de soletração);
  • Seguir instruções ou recordar um recado dado oralmente (memória auditiva);
  • Tarefas de consciência fonológica;
  • Produzir alguns sons da fala (principalmente os fonemas /r/ e /l/);
  • Adquirir e desenvolver as capacidades de leitura e/ou escrita.

No entanto, é de salientar que estas características variam de pessoa para pessoa, podendo verificar-se um ou vários sintomas. Desta forma, é fundamental que o diagnóstico diferencial seja criterioso e realizado por um Audiologista e um Terapeuta da Fala especializados na área.

Rastreio e Avaliação Formal

O Rastreio do Processamento Auditivo Central é geralmente realizado por um Terapeuta da Fala. Pode ser aplicado a crianças a partir dos 4 anos de idade e integra um conjunto de tarefas simples. Tem como objetivo orientar a família sobre a importância e necessidade de realizar ou não uma Avaliação Formal do Processamento Auditivo Central.

Esta Avaliação Formal consiste na aplicação de testes auditivos comportamentais e eletrofisiológicos por um Audiologista.


Intervenção

Os resultados da Avaliação Formal permitem delinear os objetivos terapêuticos de Treino Auditivo específicos a cada caso. A intervenção consiste na realização de um Treino dirigido às capacidades auditivas alteradas, o que permitirá melhorar o processamento da informação auditiva pelo Sistema Auditivo e maximizar a neuro-plasticidade.

Este Treino Auditivo pode ser realizado de forma formal ou informal, dependendo de cada caso. O treino formal é realizado por um Audiologista num ambiente acústico controlado (cabine) e o treino informal é conduzido por um Terapeuta da Fala, onde não é necessário o controlo acústico do ambiente e dos estímulos apresentados.

No Espaço Crescer poderá agendar um Rastreio Gratuito em Terapia da Fala e esclarecer as suas dúvidas. Contacte-nos para mais informações.

Bibliografia

  • (ASHA) American Speech-Language-Hearing Association. (1996). Central Auditory Processing: Current Status of Research and Implications for Clinical Practice. American Journal of Audiology, 5, 41–54.
  • Chermak, G. (2001). Auditory Processing Disorder: An Overview for the Clinician. The Hearing Journal, 54, 10–22.
  • Nunes C. (2015). Processamento Auditivo: Conhecer, avaliar e intervir. Papa-Letras. Lisboa

Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
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De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais 5ª Edição (DSM-5), a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento, caracterizada por défices na interação social e capacidade comunicacional, pela ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados e pela presença de interesses restritos (Khaledi et al., 2022; Mohammed, 2023; Posar & Visconti, 2017). O ser humano interage com o meio envolvente desde o seu nascimento, através de uma rede complexa de recetores que enviam constantemente informações ao sistema nervoso central que, consequentemente, geram uma determinada reação (Vives-Vilarroig et al., 2022). Estas informações são captadas através dos diferentes sentidos, uma vez que são estes que moldam as diferentes sensações e as transmitem, possibilitando ao ser humano a compreensão do que o rodeia e a formulação de diferentes conceções (Silva, 2014). Vários estudos têm evidenciado que crianças com PEA percecionam os estímulos ambientais de diferente forma, presenciando dificuldades na adequada resposta ao meio ambiente (Silva, 2014).
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