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Ansiedade e a Gestão Emocional
Carolina Pequeno, Psicóloga Clínica no Espaço Crescer • 26 de março de 2020

Concebemos a ansiedade como um estado emocional que constitui uma reacção a uma situação esperada, que desperta a existência simultânea de desejo e de medo.

Este estado emocional pode expressar-se de formas e intensidades muito variadas, todas desconfortáveis:


  • Pensamentos negativos repetitivos;
  • Perturbações do sono;
  • Necessidade em isolar-se de pessoas;
  • Preocupação excessiva com a saúde;
  • Dificuldade em manter-se atento e concentrado;
  • Medos aparentemente irracionais e excessivos face a determinadas situações;
  • Sensação de aflição e angústia;
  • Sensações físicas de aperto no peito, sintomas gastrointestinais, falta de ar, taquicardia, sudorese, perda ou aumento de apetite, entre outros.

O desconforto sentido tem uma função. A ansiedade serve para nos avisar que existem em nós necessidades emocionais por satisfazer, como a fome que nos indica que o nosso corpo precisa de nutrientes, por exemplo.

É verdade que é desagradável de se sentir, mas é uma sensação desconfortável que comporta sempre a sua função: a de nos informar que existe algo importante que temos para resolver, de modo a assegurar o nosso bem-estar.

 

Por outro lado, os ataques de pânico são uma forma que a nossa mente encontra de se expressar para nos alertar para o que precisa de ser resolvido, quando não o conseguimos perceber de outra forma, depois de outros sintomas de ansiedade já nos terem surgido e tentado comunicar.

Podemos dizer que os ataques de pânico são como alguém que arromba a porta, depois tocar à campainha durante muito tempo, sem que ninguém a ouvisse. Por isso, quando acontecem, podemos não conseguir identificar qual a sua origem e função, mas já não nos é possível ignorar que o nosso bem-estar pode estar comprometido.

Compreender os sintomas físicos


Os sintomas físicos estão frequentemente presentes nos estados de ansiedade.


A origem psicológica de sintomas físicos (psicossomática) ainda pode ser difícil de se reconhecer e compreender. No entanto, isto é o que acontece quando, de forma persistente, há um bloqueio na vivência, na expressão e na compreensão de emoções dolorosas (o medo, no caso da ansiedade).


O sofrimento psíquico precisa de ser pensado e entendido para poder ser digerido pela nossa mente - e isso só é possível se o conseguirmos tolerar/aguentar. Se por alguma razão, este trabalho não foi possível, persistem em nós emoções dolorosas que não tiveram lugar para um entendimento e, aí, a nossa mente continua a despender energia em busca dessa digestão, procurando formas de expressar até que a sua visibilidade possa ser reconhecida, seja de através do nosso estado emocional, de preocupações, de comportamentos, ou de sintomas físicos.

A Intervenção Adequada


Por isso, qualquer que seja a origem do estado de ansiedade, é importante que a atitude do profissional a quem se recorre a priori com sintomas de ansiedade (médico de família ou psicólogo clínico, por exemplo), procure um diagnóstico etiológico correcto e não intervenha de forma directa nos sintomas (com o recurso leviano a psicofármacos, por exemplo).


Por vezes, o profissional depara-se com a solicitação da pessoa para anestesiar os sintomas, dado o seu desconforto. Aqui, é importante compreender a disponibilidade psicológica da pessoa para enfrentar as questões emocionais que estão na origem dos sintomas e até, por vezes, o esforço consciente ou inconsciente em ignorá-los.


Muitas vezes sabemos que sentimos ansiedade, mesmo que não sabendo a sua origem ou função. Também muitas vezes, pela dificuldade em tolerar o sofrimento psicológico, tendemos a procurar formas de afastar e controlar os seus sintomas e recorrer a estratégias várias para nos mantermos funcionais.

 

No entanto, os sintomas de ansiedade não são, por si só, o problema que devemos resolver, mas antes uma expressão/queixa de um problema/questão emocional que está por resolver. Por isso, é fundamental compreendermos a sua origem: reconhecer o medo que nos faz sentir e a experiência emocional que o desencadeia, e perceber de que forma essa causa afecta a forma como se vivem determinadas experiências na vida.


Para que possamos compreender as formas pelas quais a nossa mente comunica que prevê mal-estar psicológico, pode ser útil questionar:

  • O que é que isto me faz sentir?
  • O que é que de pior pode acontecer?
  • Que sentimento doloroso é que eu estou a tentar evitar (re)viver?

Este é um trabalho de reflexão que não é fácil, ora porque é complexa a forma como nossa mente organiza as nossas experiências emocionais, ora porque não é fácil tolerar as emoções perturbadoras que podem daí resultar; mas é necessário para podermos desenvolver competências para lidar com as nossas emoções mais difíceis e, naturalmente, com sentimentos de ansiedade.

Exemplos de Experiências de Ansiedade


Exemplo 1:


O estudante que tem uma prova num futuro próximo, por um lado, deseja ter determinada nota e passar de ano e, por outro, teme reprovar no exame e, por isso, reprovar o ano. Esta dualidade de sentimentos provoca ansiedade, um sentimento desagradável, mas com uma função: a de alertar para as necessidades da pessoa, para o reconhecimento do que quer e precisa. Face a isso, a pessoa mobiliza recursos (ex. estuda) para se adaptar e satisfazer necessidades, e pode desenvolver capacidades.


No entanto, imaginemos agora uma situação um bocadinho diferente, em que, não só o estudante tem mais dificuldade em tolerar a ansiedade, como esta é também sentida de forma mais intensa. Neste caso, o estudante vive, na antecipação do exame, questões emocionais que vão além do medo de reprovar, nomeadamente a ansiedade relacionada com o desejo de se sentir capaz (confiança nos seus recursos pessoais) e o receio de confirmar que não o é de reexperienciar sentimentos de desvalor.


Deixamos, então, de falar só de uma ansiedade natural e ajustada ao perigo futuro concreto para falarmos de uma ansiedade que envolve outras questões na sua origem (perigo no futuro de reexperienciar emoções perturbadoras).

 

Exemplo 2:


Quando estados de ansiedade são vividos na relação com alguém, em que a aproximação afectiva desperta na pessoa desejo de intimidade e, simultaneamente, um receio em comprometer-se na relação, com comportamentos de fuga, sempre que a possibilidade de ligação é vivida. Aqui, podemos estar a falar, por exemplo, de um receio em permitir-se a ser cuidado, pela forma desastrosa como foi mal-amado numa relação significativa anterior.

 

Exemplo 3:


A pandemia que estamos actualmente a viver em sociedade.


Estamos a viver uma ameaça, o perigo de a nossa saúde e bem-estar ficarem afectados no futuro. Aqui, não podemos adivinhar o que vai acontecer e o que nos faz poder reagir às circunstâncias são as próprias circunstâncias. Sentirmos ansiedade é natural.


Nesta situação, pode ser útil pensar sobre o que sentimos para conseguirmos auto-regular as emoções. Além disso, a razão promove segurança.

- Se é medo que sinto, é medo de quê, especificamente? A nível individual, de ficar doente? A nível global, de dispersar o vírus e comprometer o nosso funcionamento enquanto sociedade?


Não obstante, esta situação pode também ser palco para a expressão de uma bagagem de receios e angústias mais profundos que nos acompanham, despoletando emoções que podem perturbar o nosso bem-estar. Aqui, mais uma vez, é importante não descurar os sintomas e não desvalorizar a compreensão dos sentimentos que despertam.

Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
Por Patrícia Primo, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer 4 de dezembro de 2024
 “Se perdesse todas as minhas capacidades, todas elas menos uma, escolheria ficar com a capacidade de comunicar porque com ela depressa recuperaria tudo o resto” Daniel Webster
Por Zelia Fernandes 9 de outubro de 2024
Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) provoca alterações na pessoa que sofreu o problema, mas também nas dinâmicas familiares e profissionais. A linguagem oral, escrita e não verbal ficam frequentemente afetadas após este episódio.
Por Patrícia Primo, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer 17 de abril de 2024
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais 5ª Edição (DSM-5), a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento, caracterizada por défices na interação social e capacidade comunicacional, pela ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados e pela presença de interesses restritos (Khaledi et al., 2022; Mohammed, 2023; Posar & Visconti, 2017). O ser humano interage com o meio envolvente desde o seu nascimento, através de uma rede complexa de recetores que enviam constantemente informações ao sistema nervoso central que, consequentemente, geram uma determinada reação (Vives-Vilarroig et al., 2022). Estas informações são captadas através dos diferentes sentidos, uma vez que são estes que moldam as diferentes sensações e as transmitem, possibilitando ao ser humano a compreensão do que o rodeia e a formulação de diferentes conceções (Silva, 2014). Vários estudos têm evidenciado que crianças com PEA percecionam os estímulos ambientais de diferente forma, presenciando dificuldades na adequada resposta ao meio ambiente (Silva, 2014).
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