Qual é a influência da respiração oral no desenvolvimento geral da criança?
A
respiração é uma função inata, vital e involuntária, cujo propósito é a troca gasosa, de forma a manter o equilíbrio entre a quantidade de oxigénio e de dióxido de carbono no sangue14. Esta é uma das funções do sistema estomatognático que tem
mais impacto no equilíbrio e na harmonia do complexo craniofacial, permitindo um correto funcionamento de todas as funções associadas (sucção, deglutição, mastigação e fala) e um desenvolvimento das estruturas oro-faciais sem alterações13.
Funcionamento fisiológico da respiração
A respiração é dividida em duas fases: inspiratória e expiratória. A
inspiração ocorre através da contração do diafragma e dos músculos intercostais, expandido a caixa torácica para diminuir a pressão dentro dos pulmões e promover a entrada de ar3. A
expiração ocorre através do relaxamento do diafragma e dos músculos intercostais, contraindo a caixa torácica para aumentar a pressão dentro dos pulmões e promover a saída de ar3.
O ar pode entrar durante a fase inspiratória da respiração através de três modos diferentes: nasal, oral ou misto3. A forma fisiológica do fluxo inspiratório deve realizar-se através do fluxo inspiratório nasal, sendo crucial que haja integridade anatómica e funcional das vias aéreas para que este ocorra8. O ar inspirado que passa pelas narinas é aquecido e humedecido através do contato com a mucosa, filtrado pelos cílios de forma a remover as impurezas em suspensão e deslocado até aos pulmões para ser realizada a troca gasosa em termos celulares4,7,12.
O que é que pode levar a uma alteração do modo respiratório?
Perante a impossibilidade de respirar pelo nariz, o corpo assume a alternativa de respirar pela boca. Esta mudança pode ocorrer por causas obstrutivas mecânicas (quando há um bloqueio mecânico da passagem do ar nas vias aéreas) ou por causas não obstrutivas (resultante de questões funcionais)13.
Em termos das causas obstrutivas destacam-se:
Nas causas não obstrutivas destacam-se:
Que impacto é que o modo respiratório oral pode ter na saúde em geral?
O modo respiratório oral não permite que seja realizada uma correta filtração, humidificação e aquecimento do ar inspirado, o que propicia a entrada de microrganismos na via aérea3. O fluxo inspiratório oral, para além de comprometer o funcionamento ventilatório e propiciar infeções, origina alterações estruturais e funcionais que comprometem a qualidade de vida e a saúde geral da criança.
Uma criança que apresenta um modo respiratório oral, em termos de estética facial, apresenta características que a identificam bastante bem. São crianças que apresentam uma face longa com aparente falta de força, olheiras, narinas estreitas, lábios entreabertos e gretados e boca aberta com a língua no soalho da cavidade oral10.
A par das questões estéticas, podem ser identificadas as seguintes alterações3,10:
E haverá impacto no desenvolvimento oromotor?
Para que ocorra uma respiração nasal e um correto desenvolvimento craniofacial é necessário que seja realizado o encerramento labial, sendo a língua uma estrutura crucial9.
A base da língua (parte de trás) deve estar em contacto com o palato mole (zona posterior da boca junto à úvula), a porção média em contato com o palato duro (céu-da -boca) e a ponta da língua em contacto com a parte de trás dos dentes superiores centrais9. Quando não há o contacto da língua com um desses pontos, os músculos da face ficam flácidos (sem força), podendo levar a boca a abrir-se durante a inspiração.
O modo respiratório oral leva a alterações nas várias estruturas orofaciais, ao nível da sua morfologia e mobilidade6,9:
As alterações nas várias estruturas orofaciais provocam, consequentemente, modificações ao nível das funções6,9:
Que profissionais podem auxiliar no dignóstico e tratamento?
Perante a existência de alterações, a avaliação e a intervenção deve ser realizada por uma equipa multidisciplinar.
Inicialmente, deve ser realizada uma avaliação na especialidade de Otorrinolaringologia e/ou Alergologia para se identificar as causas da obstrução nasal, diagnosticar e estabelecer um tratamento clínico, medicamentoso e/ou cirúrgico3.
É depois importante que o Médico Dentista de Ortopedia Funcional dos Maxilares avalie o crescimento e o desenvolvimento da maxila e da mandíbula, assim como das estruturas adjacentes, e que o Médico Dentista de Ortodontia avalie os dentes e o seu posicionamento nas suas bases ósseas (arcadas dentárias) 3.
O Terapeuta da Fala irá avaliar as estruturas orofaciais (morfologia e mobilidade) e verificar o equilíbrio no desempenho das funções estomatognáticas (sucção, respiração, deglutição, mastigação e fala). Em intervenção, irá procurar adequar as posturas em repouso e os padrões funcionais das estruturas oro-faciais, de forma a assegurar um modo respiratório fisiológico3.
Existem ainda outras especialidades que podem ser integradas neste tratamento, tais como a osteopatia, a fisioterapia respiratória, a nutrição, a psicologia, entre outras.
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2Barata, L. F., & Branco, A.. (2010). Os distúrbios fonoarticulatórios na síndrome de Down e a intervenção precoce. Revista CEFAC, 12(1), 134–139. https://doi.org/10.1590/S1516-18462010000100018
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6Marson, A., Tessitore, A., Sakano, E., & Nemr, K. (2012). Efetividade da fonoterapia e proposta de intervenção breve em respiradores orais. CEFAC, 14(6), 1153–1166. https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S1516-18462012005000054
7Martinelli, R. L. de C., Fornaro, É. F., Oliveira, C. J. M., Ferreira, L. M. D. B., & Rehder, M. I. B. C. (2011). Correlações entre alterações de fala, respiração oral, dentição e oclusão. Revista CEFAC, 13(1), 17–26. https://doi.org/10.1590/S1516-18462010005000127
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10Morais-Almeida, M., Wandalsen, G. F., & Solé, D. (2019). Growth and mouth breathers. Jornal de pediatria, 95 (1), 66–71. https://doi.org/10.1016/j.jped.2018.11.005
11Pacheco, A. B., Silva, A. M. T., Mezzomo, C. L., Berwig, L. C., & Neu, A. P.. (2012). Relação da respiração oral e hábitos de sucção não-nutritiva com alterações do sistema estomatognático. Revista CEFAC, 14(2), 281–289. https://doi.org/10.1590/S1516-18462011005000124
12Pereira, Oliveira, F., & Cardoso, M. (2017). Associação entre hábitos orais deletérios e as estruturas e funções do sistema estomatognático: percepção dos responsáveis. CoDAS, 29(3). https://doi.org/10.1590/2317-1782/20172015301
13Pereira, T., Furlan, R., & Motta, A. (2019). Relação entre a etiologia da respiração oral e a pressão máxima da língua. CoDAS, 31(2). https://doi.org/https://doi.org/10.1590/2317-1782/20182018099
14Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala (2020). Dicionário Terminológico de Terapia da Fala(1ª edição). Lisboa: Papa-Letras
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