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Vamos tratar a Dislexia por "tu"?
Renata Ferraria, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 7 de março de 2022

As dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, nomeadamente a Dislexia, têm vindo a ser muito investigadas por vários profissionais de saúde e educação. Na presente newsletter, trataremos a Dislexia por “tu”, considerando o olhar de uma Terapeuta da Fala, com experiência e formação especializada a aprofundada na área.


Dislexia: Quem és TU?

A Dislexia é uma Perturbação Específica da Aprendizagem (DSM-V), com défice na leitura e, geralmente, também na escrita, caraterizada pela existência de dificuldades ao nível do processamento fonológico (consciência fonológica, acesso lexical e memória fonológica) e, por vezes, também no processamento visual. Estas dificuldades são discrepantes face à educação convencional, ao potencial intelectual, às oportunidades socioculturais e às capacidades auditivas e visuais da criança.


Ler de forma precisa e fluente e, especialmente, compreender o que se lê é um enorme desafio para crianças com Dislexia.


Dislexia: De onde vens TU?

A Dislexia apresenta uma etiologia multifatorial, encontrando-se associada a fatores neurobiológicos: genéticos/hereditários, neurológicos e/ou neurocognitivos. Estudos realizados identificaram um conjunto de cromossomas e genes associados à Dislexia, assim como alterações na funcionalidade das áreas cerebrais responsáveis pela leitura em crianças com Dislexia. A forma como o cérebro de uma criança com Dislexia codifica, representa e processa a informação linguística é diferente.

Dislexia: Como é que TU te manifestas?

Em Idade Pré-Escolar:

  • Atraso no desenvolvimento da linguagem (ex.: começar a falar ou a produzir frases mais tarde do que o esperado);
  • Dificuldades ao nível da fala que se prolongam para além da normalidade (ex.: omitir/trocar sons; “falar à bebé”);
  • Dificuldade em memorizar e acompanhar canções infantis e lengalengas;
  • Dificuldades na consciência fonológica (ex.: reconhecer rimas, dividir palavras em sílabas, emparceirar palavras com igual sílaba/som inicial).


Em Idade Escolar:

  • Atraso na aprendizagem e/ou automatização da leitura e/ou da escrita;
  • Leitura hesitante, pausada e imprecisa;
  • Dificuldades na compreensão leitora;
  • Escrita com erros fonológicos (por exemplo, trocas entre «f/v», «p/t», «t/d», «nh/lh»), visuo-espaciais (por exemplo, trocas entre «p/q», «b/d») e/ou ortográficos (memorização das regras);
  • Dificuldade na escrita de frases e na organização das ideias no texto;
  • Baixo rendimento escolar.


Dislexia: Que prevalência tens TU?

Estima-se que a Dislexia afeta 5% a 10% das crianças em idade escolar. Isto significa que uma a duas crianças em cada vinte apresenta Dislexia, mais ou menos grave. É, então, um problema escolar grave, atual e frequente.


Dislexia: Que impacto TU tens?

As competências de leitura e escrita são uma base fundamental para todas as restantes aprendizagens. Desta forma, uma criança com dificuldades a este nível, inevitavelmente, apresentará lacunas em todas as disciplinas, variáveis consoante o nível de gravidade. A Dislexia, geralmente, revela-se então um obstáculo à aprendizagem e sucesso escolar

A par, a Dislexia tende também a acarretar consequências negativas e significativas no comportamento e no desenvolvimento emocional da criança. Evidenciam-se, com frequência, sentimentos de tristeza, ansiedade, vergonha, insegurança, incapacidade, inferioridade, frustração e baixa autoestima. Por vezes, surge o desinteresse e a desmotivação pela aprendizagem, a resistência em ir à escola, comportamentos de oposição, perturbações do sono, enurese noturna, entre outros.


Dislexia: Como e quando é que TU deves ser avaliada e diagnosticada?

No consultório Espaço Crescer esta avaliação traduz-se num procedimento de diagnóstico completo para que se possa desmistificar a natureza das dificuldades existentes e, assim, realizar o diagnóstico diferencial. É realizada por uma equipa multidisciplinar, composta por uma Psicóloga Clínica e uma Terapeuta da Fala, com experiência e especialização na área. 


O diagnóstico formal apenas poderá ser concluído após o final do 2º ano de escolaridade e os oito anos de idade, altura em que finda o processo de maturação neurológica e, a nível escolar, o ensino formal da leitura e da escrita. No entanto, as dificuldades de leitura e/ou escrita deverão ser valorizadas e exploradas assim que identificadas. Mesmo com o diagnóstico pendente, a intervenção deve iniciar-se o mais precocemente possível, no sentido de melhorar o prognóstico


Jovens e adultos, não sinalizados anteriormente, que manifestem sinais de alerta, também poderão realizar uma Avaliação, em qualquer momento.


Dislexia: Como deves TU ser intervencionada?

A intervenção deverá ser realizada por um Terapeuta da Fala com experiência e especialização na área, individualmente com a criança. Com base nos resultados da avaliação, é delineado um plano de intervenção específico. As consultas de intervenção têm como objetivo reeducar, desenvolver e otimizar as áreas lacunares, com recurso a metodologias, técnicas e estratégias específicas. Geralmente o processo é longo e, especialmente no início, requer consultas frequentes, embora dependa da gravidade de cada caso. A par da intervenção direta, considera-se fundamental a existência de uma comunicação e articulação eficazes com a família e a escola. Em conjunto, são ponderadas as Medidas de Suporte à Aprendizagem necessárias e mais adequadas à criança.

Dislexia: Que prognóstico TU tens?

As dificuldades decorrentes da Dislexia são permanentes. Podem melhorar significativamente se a intervenção for atempada e regular, mas a criança não conseguirá superar as suas dificuldades totalmente. A Associação Portuguesa de Dislexia indica que “com uma intervenção precoce conseguem-se ultrapassar cerca de 90% das dificuldades”, mas quando adiamos a intervenção, esta percentagem diminui notoriamente.

Mais tarde, na adolescência e na idade adulta, a intervenção também é concretizável, mas o prognóstico é mais reservado.


Dislexia: TU sabias que... existem vários famosos com Dislexia?

Thomas Edison, Beethoven, Albert Einstein, Leonardo da Vinci, Walt Disney, Van Gogh, Tom Cruise, Mozart, Bill Gates…


A Dislexia não tem de definir o futuro de ninguém!


Procure ajuda especializada, pois uma identificação precoce, assim como uma intervenção adequada, trará benefícios cruciais à criança!

Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
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 “Se perdesse todas as minhas capacidades, todas elas menos uma, escolheria ficar com a capacidade de comunicar porque com ela depressa recuperaria tudo o resto” Daniel Webster
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Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) provoca alterações na pessoa que sofreu o problema, mas também nas dinâmicas familiares e profissionais. A linguagem oral, escrita e não verbal ficam frequentemente afetadas após este episódio.
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De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais 5ª Edição (DSM-5), a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento, caracterizada por défices na interação social e capacidade comunicacional, pela ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados e pela presença de interesses restritos (Khaledi et al., 2022; Mohammed, 2023; Posar & Visconti, 2017). O ser humano interage com o meio envolvente desde o seu nascimento, através de uma rede complexa de recetores que enviam constantemente informações ao sistema nervoso central que, consequentemente, geram uma determinada reação (Vives-Vilarroig et al., 2022). Estas informações são captadas através dos diferentes sentidos, uma vez que são estes que moldam as diferentes sensações e as transmitem, possibilitando ao ser humano a compreensão do que o rodeia e a formulação de diferentes conceções (Silva, 2014). Vários estudos têm evidenciado que crianças com PEA percecionam os estímulos ambientais de diferente forma, presenciando dificuldades na adequada resposta ao meio ambiente (Silva, 2014).
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