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Disartria e Apraxia do Discurso, qual a diferença?
Mónica Monteiro, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 23 de outubro de 2020

Perturbações Adquiridas da Fala
As perturbações adquiridas da fala podem ser definidas como o resultado de alterações neurológicas que afetam o planeamento, a programação, o controlo e/ou a execução da fala. Este tipo de perturbações compreendem a
Disartria e a Apraxia do Discurso. Apesar de ambas se tratarem de alterações que afetam especificamente a fala, estas duas patologias apresentam características muito distintas, o que permite diferenciá-las de forma clara e precisa.

 

Disartria
A Disartria é uma
alteração motora da fala, causada por uma lesão no Sistema Nervoso Central (SNC) e/ou periférico. É uma perturbação que está associada à lentidão, fraqueza ou falta de coordenação dos movimentos de fala, devido à incapacidade de programar a posição dos órgãos fonoarticulatórios envolvidos na expressão oral. As alterações que ocorrem ao nível da fala são causadas por paralisias, paresias, debilidade, lentidão, alterações de tónus e descoordenação dos músculos da fala. Como consequência, todos os processos de produção da fala são afetados, nomeadamente, a respiração, a fonação, a ressonância, a articulação e a prosódia. Existem vários tipos de Disartria e diferentes graus de severidade, que dependem da área afetada do sistema nervoso.


A maior parte dos pacientes com esta perturbação apresenta várias características específicas na produção da fala, tais como:
imprecisão articulatória, alterações na intensidade e altura tonal (tom de voz) e diminuição da velocidade da fala. Os pacientes com Disartria são capazes de pronunciar fonemas, semelhantes às palavras que querem dizer e na ordem correta. No entanto, a fala pode ser espasmódica (tensa-estrangulada) e a respiração interrompida, irregular, imprecisa ou monótona. Também podem apresentar má qualidade da voz (voz rouca e/ou com volume irregular) e hipernasalidade. Todavia, estas características poderão variar consoante o tipo de Disartria.

Apraxia do Discurso


A Apraxia do Discurso, por sua vez, é causada por uma lesão no SNC e define-se como uma alteração da produção articulatória do discurso que afeta a capacidade de programação e sequenciação dos movimentos dos músculos necessários à produção de fala. Contrariamente à Disartria, estas dificuldades não são acompanhadas por fraqueza ou lentidão significantes, nem incoordenação destes músculos nos movimentos reflexos ou automáticos.


Na Apraxia do Discurso, o paciente é capaz de selecionar as palavras, mas não a sequência correta das sílabas. Deixa de conseguir ter controlo da fala, uma vez que ocorre a perda da voluntariedade do discurso e da autonomia articulatória. É consciente dos seus erros e, por isso, apresenta hesitações, repetições e inversões de sílabas no seu discurso como forma de se autocorrigir.

Os pacientes com Apraxia, apresentam determinadas características no seu discurso, nomeadamente:

  • Erros/dificuldades articulatórias variáveis e imprecisas;
  • Maior dificuldade em palavras maiores, desconhecidas ou sem significado;
  • Menor produção de erros no discurso espontâneo;
  • Prosódia lenta;
  • Presença de mímicas faciais, acompanhadas por movimentos silenciosos dos lábios.

Etiologia


Existem várias situações que podem causar uma lesão cerebral, causando uma Disartria ou Apraxia do Discurso. Entre as possíveis causas destacam-se:

  • Acidentes Vasculares Cerebrais;
  • Traumatismos Crânio-Encefálicos;
  • Doenças degenerativas;
  • Tumores;
  • Infeções;
  • Exposição a condições tóxicas.

A Disartria pode afetar tanto adultos como crianças, sendo que nas crianças pode ser congénita ou adquirida. Normalmente, é sintoma de uma doença neurológica, como por exemplo a paralisia cerebral, mas também pode resultar de um traumatismo craniano. 

Por sua vez, a Apraxia do Discurso trata-se de uma perturbação rara e surge quase sempre concomitantemente com um quadro de Afasia (perturbação adquirida da linguagem resultante de uma lesão cerebral).

Disartria VS Apraxia do Discurso


Apesar de a Disartria e a Apraxia do Discurso serem perturbações que afetam a comunicação e que podem coexistir entre si, estas diferem quanto à localização da lesão e quanto às manifestações de ordem motora, permitindo a realização de um diagnóstico diferencial. O quadro abaixo ilustra as principais diferenças entre as duas perturbações:

Reabilitação e a importância da Terapia da Fala


A Terapia da Fala é uma das áreas que intervém na reabilitação de pacientes com Disartria e Apraxia do Discurso. O Terapeuta da Fala é responsável por detetar ou confirmar a presença de alterações, estabelecer um diagnóstico diferencial, classificar a patologia e especificar a severidade do quadro apresentado. Através da avaliação, é possível o terapeuta estabelecer um prognóstico e um plano de intervenção, determinar os critérios do tratamento e monitorizar as mudanças que ocorram no paciente, durante a intervenção. 


De modo geral, o principal objetivo do Terapeuta da Fala consiste em maximizar a comunicação, amenizando as capacidades perdidas para que seja recuperada alguma autonomia e exista um aumento da funcionalidade nas rotinas diárias. No entanto, existem vários modelos de intervenção, sendo que cada um deles integra objetivos e técnicas específicas, pelo que a intervenção deve ser individualizada e adaptada a cada indivíduo e às suas necessidades, com base nas diferentes dificuldades e capacidades identificadas..

Bibliografia

 

  • Hegde, M. (2008). Hegde's Pocketguido to Assessment in Speech-Language Pathology .
  • Issler, S. (2006). Articulação e Linguagem: Fonoaudiologia na avaliação e no diagnóstico fonoaudiológo . Rio de Janeiro: Revinter.
  • Melle, N. (2007). Guía de intervención logopédica en la disartria. Madrid: Editorial Síntesis.
  • Owens, R., Metz, D., & Haas, A. (2003). Introduction to communication disorders- a life span perspective (2ªedição). Boston: Pearson Education.
  • Payão, L. M., Lavra-Pinto, B. d., Wolff, C. L., & Carvalho, Q. (2012). Características clínicas da apraxia de fala na infância: revisão de literatura. Letras de hoje, Porto Editora. pp. 24-29.
  • Souza, T. N., & Payão, L. M. (2008). Apraxia da fala adquirida e desenvolvimental: semelhanças e diferenças. 193-202
Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
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De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais 5ª Edição (DSM-5), a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento, caracterizada por défices na interação social e capacidade comunicacional, pela ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados e pela presença de interesses restritos (Khaledi et al., 2022; Mohammed, 2023; Posar & Visconti, 2017). O ser humano interage com o meio envolvente desde o seu nascimento, através de uma rede complexa de recetores que enviam constantemente informações ao sistema nervoso central que, consequentemente, geram uma determinada reação (Vives-Vilarroig et al., 2022). Estas informações são captadas através dos diferentes sentidos, uma vez que são estes que moldam as diferentes sensações e as transmitem, possibilitando ao ser humano a compreensão do que o rodeia e a formulação de diferentes conceções (Silva, 2014). Vários estudos têm evidenciado que crianças com PEA percecionam os estímulos ambientais de diferente forma, presenciando dificuldades na adequada resposta ao meio ambiente (Silva, 2014).
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