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Será que... Fala pouco?
Mónica Monteiro, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 20 de agosto de 2019
É frequente ouvirmos os pais e as educadoras referirem: “tem 2 anos e não fala”; “não fala bem”; “parece que não compreende o que lhe é dito”; “percebe tudo, mas fala pouco”. Na presente newsletter, falaremos da área da LINGUAGEM, considerando o olhar de uma Terapeuta da Fala.

O que é a Linguagem?



A linguagem pode ser definida como a via, através da qual, as experiências e as ideias são transmitidas para as outras pessoas. É, portanto, uma forma particular de comunicação, entre várias, podendo ser realizada por meio da fala e/ou da escrita.

Integra a compreensão verbal , que se refere ao significado das palavras, ou seja, ao que a criança entende e assimila da informação que recebeu; e a expressão verbal , que diz respeito ao que a criança diz e à forma como o expressa.



A linguagem é constituída por cinco domínios interdependentes:

 

  • Fonologia : sons da língua (fonemas) que formam as palavras; 
  • Morfologia : estrutura, formação e classificação das palavras; 
  • Sintaxe : modo como as palavras se podem organizar entre si para produzirem frases bem formadas; 
  • Semântica : significado e interpretação das palavras, das frases e discursos; 
  • Pragmática : uso da linguagem verbal e não verbal, estando relacionada com aspetos culturais e sociais. 

 

Desenvolvimento da Linguagem



Durante o desenvolvimento da linguagem, a criança passa por diversas etapas de forma ordenada e sequencial. Porém, cada criança segue o seu ritmo, sendo este dependente das suas potencialidades e da qualidade do contexto em que está inserida. Quanto mais estimulante for o ambiente linguístico, e quanto mais ricas forem as vivências experienciadas, mais desafios se colocam à criança e maiores serão as possibilidades de desenvolvimento linguístico, cognitivo e emocional. Seguem, resumidamente, as etapas esperadas no desenvolvimento normal da linguagem dos 0 aos 6 anos:

 

0 a 12 meses

Entre os 0 e os 12 meses, a criança encontra-se na fase pré-linguística, ou seja, a fase em que são vocalizados apenas sons (sem palavras). Nesta etapa, a criança utiliza o olhar, as expressões faciais, o choro e o gesto para comunicar com os outros. Posteriormente, começa a palrar, produzindo vogais e posteriormente algumas consoantes como /p, b, k, g/. Reage aos sons e dirige o olhar e/ou cabeça na direção dos mesmos. Por volta dos 4 e os 6 meses, a criança começa a reconhecer o próprio nome e a responder emotivamente à voz materna, iniciando-se a fase do balbucio, que antecede ao período linguístico e, caracteriza-se pela produção e repetição de sons de consoantes e vogais (ex.: “ma-ma-ma”).



12 aos 18 meses

EntrEntre os 12 e os 18 meses, a criança começa a produzir as primeiras palavras, iniciando-se assim o período linguístico. Nesta fase, a criança compreende e responde a ordens simples (ex.: “dá a bola”) e é capaz de produzir entre 10 a 40 palavras (ex.: “mamã”, “banana”). Começa a acompanhar a linguagem com gestos, virando a cabeça para comunicar “não” ou fazendo movimentos com as mãos para pedir alguma coisa ou chamar alguém.



18 aos 24 meses
Entre os 18 e os 24 meses, a criança já compreende e/ou produz mais de 50 palavras, começa a combinar duas palavras e responde a perguntas (ex.: “tens fome?”). Faz pedidos, recorre a diferentes formas de comunicação não-verbal para chamar a atenção, reconhece e identifica objetos comuns e respetivas imagens e aponta para algumas partes do corpo.


2 e os 4 anos
A partir dos 2 anos, o vocabulário aumenta de dia para dia e a criança passa a compreender uma média de 300 palavras. Começa a produzir frases de duas ou três palavras e utiliza a linguagem para pedir informação, expressar oposição ou clarificar o que ouviu. Aos 3/4 anos, a criança utiliza frases mais complexas com três ou mais palavras e participa nas conversas. Adquire regras de concordância (número e género), começa a questionar tudo, conta histórias simples e o seu discurso é percetível para os familiares e, posteriormente, para os outros.


4 e os 6 anos
Entre os 4 e os 5 anos, a criança utiliza um discurso mais complexo, utilizando frases mais elaboradas. Dirige-se mais aos outros, expressa-se bem e utiliza os tempos verbais adequados. Pode eventualmente revelar ainda dificuldades no que se refere à articulação/dicção. Entre os 5 e os 6 anos a criança encontra-se na fase de consolidação. Nesta etapa, a criança melhora o seu discurso e a sua articulação verbal. A partir dos 6 anos, a criança tem uma linguagem completa, a nível compreensivo e expressivo, e articula todos os sons da língua.

A Importância da Audição


A audição é um dos principais sentidos que permitem à criança adquirir e desenvolver a linguagem. Mesmo antes do nascimento, dentro da barriga da mãe, o bebé consegue ouvir determinados sons e distinguir a voz da mãe e de outras pessoas. À medida que cresce, a criança está exposta a estímulos sonoros constantes através da interação com o ambiente em que vive. Deste modo, uma perda auditiva durante a infância, pode dificultar ou atrasar a aquisição da linguagem. Neste sentido, é fundamental que não só os pais, como também os educadores, estejam atentos a todos os sinais que possam indicar problemas auditivos, para que se possa efetuar um rastreio precoce e um tratamento rápido e atempado.

Dificuldades de Linguagem

Podem ocorrer casos em que há um atraso no desenvolvimento da linguagem expressiva e/ou compreensiva em um ou vários domínios linguísticos, comparativamente com o que é esperado para a idade da criança. As dificuldades linguísticas são, muitas vezes, identificadas pelos pais, educadores e pediatras, referindo que a criança fala pouco, tem dificuldade em expressar-se ou não compreende o que lhe é dito. As alterações ao nível da linguagem podem afetar a sua socialização e capacidade de aprendizagem.

Estimulação da Linguagem


Como referido anteriormente, o contexto natural é aquele que melhor favorece o desenvolvimento da linguagem na criança e, por isso, é fundamental que os pais e a família participem de forma ativa no processo. Seguem algumas estratégias que contribuem para o desenvolvimento da linguagem da criança:

  • Falar pausadamente, de forma clara e de frente para a criança;
  • Falar normalmente, não infantilizando o discurso com expressões como "pópó", "ão ão", etc;
  • Conversar diariamente com a criança sobre o seu dia e/ou temas do seu interesse, de forma pausada dando o modelo correto e usando frases simples;
  • Explicar a(s) palavra(s) que a criança não percebe e, se necessário, recorrer a gestos;
  • Fazer perguntas abertas, evitando perguntas fechadas, de forma a que a criança fale mais (ex.: O que queres beber? em vez de “Queres água?”);
  • Ensinar as palavras nos contextos próprios do dia-a-dia, ou seja, os alimentos quando estão a comer ou as roupas quando as crianças se estão a vestir;
  • Dar tempo para a criança responder, promovendo uma linguagem mais espontânea e não insistir quando não quer falar;
  • Fornecer o modelo corretivo, sempre que a criança diga alguma palavra de forma incorreta;
  • Possibilitar que a criança espere a sua vez quando quer algo, ensinando-a que “agora sou eu” e “agora és tu;
  • Ler ou inventar histórias para a criança e fazer-lhe perguntas relacionadas com aquilo que ela acabou de ouvir.

Por vezes, há crianças que não seguem os padrões esperados do desenvolvimento da linguagem. Nestes casos, é importante os pais e os educadores estarem alerta e procurarem ajuda!
Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
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 “Se perdesse todas as minhas capacidades, todas elas menos uma, escolheria ficar com a capacidade de comunicar porque com ela depressa recuperaria tudo o resto” Daniel Webster
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Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) provoca alterações na pessoa que sofreu o problema, mas também nas dinâmicas familiares e profissionais. A linguagem oral, escrita e não verbal ficam frequentemente afetadas após este episódio.
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De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais 5ª Edição (DSM-5), a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento, caracterizada por défices na interação social e capacidade comunicacional, pela ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados e pela presença de interesses restritos (Khaledi et al., 2022; Mohammed, 2023; Posar & Visconti, 2017). O ser humano interage com o meio envolvente desde o seu nascimento, através de uma rede complexa de recetores que enviam constantemente informações ao sistema nervoso central que, consequentemente, geram uma determinada reação (Vives-Vilarroig et al., 2022). Estas informações são captadas através dos diferentes sentidos, uma vez que são estes que moldam as diferentes sensações e as transmitem, possibilitando ao ser humano a compreensão do que o rodeia e a formulação de diferentes conceções (Silva, 2014). Vários estudos têm evidenciado que crianças com PEA percecionam os estímulos ambientais de diferente forma, presenciando dificuldades na adequada resposta ao meio ambiente (Silva, 2014).
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