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Será que... FALA "mal"?
Renata Ferraria, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 12 de junho de 2019

É comum ouvirmos as educadoras e os pais referirem: “é muito trapalhão a falar”; “fala à bebe”; “fala muito, mas não percebemos nada”; “tem dificuldade em pronunciar algumas palavras”, “é sopinha de massa”, “parece um espanhol a falar”. Neste artigo, falaremos da área da FALA, considerando o olhar de uma Terapeuta da Fala.

O que é a Fala?

A fala é o ato motor que permite transmitir a linguagem. Envolve a produção de sons através dos movimentos dos articuladores (língua, lábios, dentes, maxilar e palato).

Desenvolvimento da Fala                                                                                                         

A capacidade de falar corretamente varia de criança para criança, dependendo de diversos fatores, nomeadamente o desenvolvimento global da criança e o seu próprio desenvolvimento da linguagem. Por exemplo, uma criança que começou a falar aos 9 meses, terá mais tempo para praticar a fala e, por isso, falará corretamente mais cedo, do que uma criança que começou a falar apenas aos 2 anos.

Durante a aquisição e o desenvolvimento da fala, as crianças tendem a cometer erros previsíveis, uma vez que há uma tendência para que simplifiquem as produções verbais orais dos adultos. No entanto, em média, por volta dos 3 anos de idade, é esperado que a família e as pessoas mais próximas entendam a fala da criança; aos 4 anos, a criança seja bem entendida também por pessoas estranhas; e aos 5 anos o discurso da criança seja já entendido por todas as pessoas e em todas as situações.

No entanto, as crianças não aprendem a produzir todos os sons corretamente de uma só vez, vão aprendendo de forma gradual ao longo do seu desenvolvimento. A aquisição de cada som efetua-se então em alturas específicas do desenvolvimento da criança, mais propriamente em determinadas idades. Além disso, importa referir que os sons não têm o mesmo tempo de aquisição, sendo que uns são mais difíceis de articular do que outros. De seguida, segue uma tabela com os sons que são esperados a criança adquirir em cada faixa etária, servindo de diretriz.

Fatores Relacionados com o Desenvolvimento da Fala

 A) Freio da Língua

O freio da língua é uma pequena membrana que liga a língua ao “chão” da boca. Com a língua devemos conseguir fazer variados movimentos. No entanto, se o freio for curto, esses movimentos geralmente ficam limitados, nomeadamente o de elevação da língua (sensação de “língua presa”), tão essencial para a produção de vários sons da fala.

B) Sucção e Tetinas

A sucção tem vários benefícios para a fala criança: ajuda o crescimento da face e do maxilar e desenvolve e fortifica os músculos orais necessários para falar. No entanto, pode também ser muito prejudicial para as estruturas e funções orais da criança, nomeadamente quando a sucção de tetinas (biberão e chupeta) se prolonga além da idade recomendada (entre os 18 e 24 meses).

C) Respiração Oral

Quando a criança apresenta uma respiração maioritariamente oral (pela boca), podem surgir alterações no desenvolvimento dos dentes e dos músculos oro-faciais e, consequentemente, na articulação dos sons da fala.

D) Mastigação

A mastigação está muito relacionada com a fala, pois muitas das estruturas orais envolvidas são as mesmas. A criança ao mastigar sólidos promove um crescimento facial harmonioso e exercita e fortifica os músculos fundamentais para a produção da fala, daí a sua importância. Se a criança mantiver uma alimentação à base de pastosos, não vai precisar de mastigar e, por isso, não exercita e fortalece a musculatura oro-facial, o que se pode traduzir em dificuldades na articulação dos sons da fala.

E) Desenvolvimento Emocional

Atrasos ou regressões ao nível do desenvolvimento emocional, decorrentes de mudanças na vida da criança, podem traduzir-se em imaturidade na fala (presença de diminutivos, distorções, omissões e trocas de sons) ou mesmo aquisição tardia da fala. Estes períodos regressivos podem ser transitórios, fazendo parte do processo de adaptação da criança às mudanças, ou poderão persistir, pelo que importa ficar alerta. A criança ao falar “à bebé” está a sinalizar algo aos pais. Nestes casos específicos, a fala não está isolada do comportamento e desenvolvimento global da criança. Importa, assim, despistar eventuais questões do desenvolvimento emocional da criança em casos de maior dificuldade de aquisição da fala.

Dificuladades na Fala

Ter dificuldades na fala significa ter dificuldade em pronunciar um ou vários sons da fala. Essas dificuldades podem traduzir-se em omissões de sons (ex.: três - tês), substituições de sons (ex.: casa - tasa) ou distorções de sons (“sopinha de massa”).

Podem ser isoladas ou estarem associadas a outras dificuldades na linguagem e/ou no desenvolvimento (ex.: défice auditivo, fenda palatina, paralisia cerebral). Além disso, podem advir de questões orgânicas ou funcionais (fonética), quando existem alterações nos articuladores; e/ou podem advir de dificuldades em tomar consciência dos sons da sua língua (fonologia). Perante dificuldades na fala, a criança pode começar a inibir-se, sendo mais difícil comunicar socialmente e aceitar as tentativas de ajuda do adulto.

Estimulação da Fala

Seguem algumas estratégias que contribuem para o desenvolvimento da fala da criança:

  • Falar pausadamente, de forma clara e de frente para a criança;
  • Apresentar sempre o modelo correto da forma como se produz o som que a criança não diz ou revela dificuldade. Repeti-lo, dizê-lo mais alto e articulá-lo de forma exagerada e expressiva. Por exemplo, se a criança disser «xapo» em vez de «sapo», exagerar no som «s», demonstrando como se articula;
  • Quando se der o modelo correto, não pedir à criança para repetir a palavra em que tem dificuldade. A seu tempo ela começará a repetir de forma espontânea. Quando insistimos constantemente, poderá sentir-se frustrada;
  • Evitar usar expressões negativas, como por exemplo «estás a dizer mal!». Usar expressões de incentivo, como «para a próxima vais conseguir!» ou «experimenta!»;
  • Dividir as palavras maiores em sílabas através de batimentos rítmicos. Por exemplo, na palavra «bicicleta», bater uma palma por cada “bocadinho” (bi|ci|cle|ta).

“Só com uma intervenção atempada é possível que a criança venha a ter uma fala percetível, acompanhando o desenvolvimento da linguagem e, mais tarde, a aprendizagem da leitura e da escrita.”


Em caso de dúvida ou suspeita de dificuldades, procure ajuda!

 

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Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
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