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VOZ – ROUQUIDÃO – CRIANÇAS “O meu filho chega a casa rouco depois das aulas”
Renata Ferraria, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 16 de abril de 2020
A Voz… é considerada a ferramenta mais importante para os seres humanos comunicarem, daí a necessidade em cuidá-la. Cada criança desenvolve as suas próprias formas de usar a voz para se expressar, iniciar e manter o contato com os outros e para satisfazer as suas necessidades.

Disfonia Infantil


Cada criança tem uma voz única, com determinado timbre. Quando revela dificuldade em produzir a sua voz natural e, consequentemente, dificuldade em transmitir a mensagem verbal e emocional que pretende, estamos perante uma criança com uma perturbação vocal – disfonia infantil.


Segundo a literatura, a incidência de disfonia infantil varia entre 5 a 9%. O maior pico ocorre entre os 5 e os 10 anos de idade, numa proporção de três meninos para uma menina. A predominância do sexo masculino está relacionada com o papel socialmente mais agressivo e competitivo que os meninos geralmente apresentam.

A disfonia infantil tem como principais SINAIS DE ALERTA:

  • Rouquidão (sintoma mais comum);
  • Dor de garganta;
  • Dificuldade em projetar a voz (volume muito baixo);
  • Episódios de perda gradual da voz e/ou de afonia (perda total da voz);
  • Soprosidade (ouve-se ar na voz);
  • Voz mais grave (dificuldade nos tons agudos).

Fatores que Podem Causar, Predispor ou Agravar a Disfonia Infantil

A disfonia infantil resulta, na maior parte dos casos, da presença frequente de comportamentos vocais abusivos. Estes exigem um grande esforço e provocam um forte atrito entre as pregas vocais, irritando e sobrecarregando os músculos e os tecidos envolvidos na produção da voz. Além disso, poderá também estar relacionada com fatores ambientais, sociais, anátomo-fisiológicos, emocionais e pessoais.
 
Comportamentos Vocais Abusivos
  • Falar muito alto e gritar frequentemente;
  • Chorar ou rir excessivamente e de forma esforçada;
  • Imitar ruídos/vozes (ex.: máquinas, animais, monstros);
  • Sussurrar ou falar muito rápido e durante muito tempo seguido;
  • Tossir ou pigarrear (“limpar/arranhar” a garganta) constantemente;
  • Falar durante atividades desportivas (ex.: futebol, karaté);
  • Cantar sem cuidados, fora de tom e com esforço.
Alimentos e Ambientes Nocivos
  • Consumir regularmente cafeína, bebidas gaseificadas, lacticínios (ex.: leite, chocolate) e alimentos gordurosos, picantes e/ou com acidez – promovem a produção de muco no trato vocal, desidratam e/ou irritam as pregas vocais;
  • Ambientes ruidosos – existe a necessidade elevar o volume da voz, esforçando;
  • Ambientes poluídos (fumo de tabaco), secos (poeiras) e com ar condicionado - desidratam e irritam os tecidos da laringe;
  • Mudanças bruscas de temperatura (ambientes e alimentos) – ocorre um choque térmico, alterando a estabilidade dos músculos do trato vocal;
  • Dinâmica familiar – ex.: as crianças que “não se sentem ouvidas” procuram ganhar o seu espaço, através da voz.
Características Pessoais Nocivas
  • Personalidade da criança (ansiedade, agitação, agressividade, hiperatividade – crianças falam mais alto e com mais frequência; timidez – crianças falam mais baixo, quase em sussurro) – tensão e esforço vocal;
  • Desequilíbrio hormonal (tiroide);
  • Configuração fisiológica da laringe das crianças – propensa a nódulos vocais;
  • Infeções, inflamações e alergias nas vias respiratórias superiores;
  • Descoordenação entre a respiração e a fala;
  • Respiração maioritariamente oral – resseca as mucosas do trato vocal;
  • Medicamentos – desidratam e agridem a mucosas do trato vocal;
  • Problemas auditivos – se a criança ouve mal, tende a falar mais alto;
  • Refluxo laringofaríngeo ou gastroesofágico (azia).
Nódulos Vocais

Consoante a etiologia da disfonia, esta pode ser classificada como: funcional (mau uso das estruturas fonatórias, ex.: gritar frequentemente), orgânico­-funcional (lesões consequentes de comportamentos vocais inadequados, ex.: nódulos vocais) ou orgânica (consequência de alterações físicas, ex.: problemas neuromusculares).

A maioria das disfonias infantis é de origem funcional. Porém, pode rapidamente acarretar alterações orgânicas secundárias (mais comumente os nódulos vocais), devido à persistência dos comportamentos vocais abusivos e à tensão muscular associada. Os nódulos vocais são lesões de massa benignas que, na infância, tendem a ser bilaterais e de natureza predominantemente edematosa. Resultam inicialmente numa disfonia episódica (tanto melhora, como piora) e progressiva (a qualidade vocal tende a piorar com o avanço da lesão).
Importância da Sinalização Precoce

Estudos realizados relatam que os pais tendem a ter dificuldade em identificar as alterações vocais nos seus filhos, pois confundem-nas com infeções nas vias áreas superiores (ex.: constipações) ou vêem-nas como uma fase normal do desenvolvimento infantil. Há pais que até dizem: “não tinha notado, a voz da minha filha sempre foi assim”. Além disso, como estes problemas, na maioria das vezes, não afetam o sucesso académico, há a tendência para passarem mais despercebidos, contrariamente aos problemas linguísticos e/ou articulatórios.

Porém, é de realçar que uma sinalização tardia da disfonia atrasa o diagnóstico e o tratamento, aumentando as complicações e piorando o prognóstico. Além disso, sendo a voz o principal instrumento de comunicação, tem vindo a ser demonstrando que problemas vocais dificultam a comunicação e prejudicam o desenvolvimento social, afetivo-emocional e educacional, assim como a autoestima da criança.

Visto isto, os pais deverão estar atentos às possíveis alterações na voz da criança e, no caso de identificarem algum sintoma de patologia vocal (ex.: rouquidão) por um tempo prolongado (mais de 10/14 dias), deverão procurar inicialmente um Otorrinolaringologista e, posteriormente, um Terapeuta da Fala.
Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
Por Patrícia Primo, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer 4 de dezembro de 2024
 “Se perdesse todas as minhas capacidades, todas elas menos uma, escolheria ficar com a capacidade de comunicar porque com ela depressa recuperaria tudo o resto” Daniel Webster
Por Zelia Fernandes 9 de outubro de 2024
Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) provoca alterações na pessoa que sofreu o problema, mas também nas dinâmicas familiares e profissionais. A linguagem oral, escrita e não verbal ficam frequentemente afetadas após este episódio.
Por Patrícia Primo, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer 17 de abril de 2024
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais 5ª Edição (DSM-5), a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento, caracterizada por défices na interação social e capacidade comunicacional, pela ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados e pela presença de interesses restritos (Khaledi et al., 2022; Mohammed, 2023; Posar & Visconti, 2017). O ser humano interage com o meio envolvente desde o seu nascimento, através de uma rede complexa de recetores que enviam constantemente informações ao sistema nervoso central que, consequentemente, geram uma determinada reação (Vives-Vilarroig et al., 2022). Estas informações são captadas através dos diferentes sentidos, uma vez que são estes que moldam as diferentes sensações e as transmitem, possibilitando ao ser humano a compreensão do que o rodeia e a formulação de diferentes conceções (Silva, 2014). Vários estudos têm evidenciado que crianças com PEA percecionam os estímulos ambientais de diferente forma, presenciando dificuldades na adequada resposta ao meio ambiente (Silva, 2014).
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