A LEITURA é uma ferramenta imprescindível em todas as fases da vida. O sucesso escolar e o desenvolvimento do sistema linguístico da criança dependem bastante das suas capacidades de leitura. É a leitura que facilita o acesso a novos conhecimentos e aprendizagens. A leitura não se adquire espontaneamente, necessita de uma aprendizagem estruturada, sistematizada e dirigida. Além disso, não se resume à alfabetização, desenvolve-se ao longo de toda a vida.
A criança lê efetivamente quando conjuga a precisão, a velocidade, a prosódia e a compreensão. Quando um dos seus componentes não ocorre como é esperado, o alcance de todos os outros é limitado. A precisão e a velocidade são dois indicadores de desempenho da leitura essenciais que, juntos, traduzem a fluência leitora da criança e se encontram altamente relacionados com a compreensão leitora.
A PRECISÃO é o grau de correção da leitura da criança, ou seja, a exatidão com que são transformados os grafemas (letras) em fonemas (sons). O domínio desta competência de descodificação (princípio alfabético) e reconhecimento de palavras é necessário para que a criança consiga aumentar o automatismo da sua leitura.
A VELOCIDADE é o ritmo da leitura da criança. Faz a ponte entre o reconhecimento das palavras e a sua compreensão. É fundamental que a criança consiga ler com rapidez e, em simultâneo, suavemente, sem esforço e automaticamente.
A PROSÓDIA é um conjunto de recursos da linguagem oral que inclui ênfase, variações de tom e intensidade, entoação e pausas. Para a criança realizar uma leitura prosódica terá de conseguir identificar os limites das frases e, assim, ler em pedaços significativos, isto é, frase a frase (em vez de palavra a palavra), realizando pausas adequadas. Além disso, importa a criança ler as frases com a entoação e o tom corretos, de acordo com os sinais de pontuação. Por fim, é igualmente importante, que a leitura seja realizada com expressividade e sem esforço, como se estivesse a falar. Todos estes aspetos prosódicos têm um grande relevo para a compreensão leitora, pois fornecem pistas sintáticas e semântico-pragmáticas que facilitam o processamento da informação. Desta forma, conclui-se que, quando a criança lê com uma prosódia adequada, indica que está a compreender o que está a ler, facilitando também a compreensão de quem ouve.
A COMPREENSÃO na leitura permite ler palavras, frases e textos, dando-lhes significado, interpretando-os e permitindo utilizar a mensagem para construir e adquirir conhecimentos. As capacidades de compreensão leitora dependem essencialmente do capital lexical de cada criança e da sua fluência leitora, isto é, da capacidade que revela a ler os textos com rapidez, precisão e com a expressividade adequada, de forma suave e sem esforço, descodificando e reconhecendo automaticamente as palavras.

A automatização da leitura baseia-se na capacidade de descodificar, identificar e entender as palavras, reconhecendo e acedendo automaticamente ao léxico ortográfico armazenado. Quanto melhor for a mecânica de descodificação e de automatização no reconhecimento das palavras, mais atenção disponível existirá para ser dedicada à compreensão, nomeadamente para serem feitas ligações entre as ideias do texto e entre o texto e os conhecimentos anteriores da criança. Aliás, a automatização da leitura é fundamental para que possam entrar em ação os procedimentos necessários à compreensão da mensagem, pois é possível descodificar sem compreender, mas não é possível compreender sem descodificar. O objetivo final é a criança conseguir descodificar e compreender o que lê em simultâneo.
MOTIVAÇÃO para a Leitura
“Para se ser leitor não basta saber: é preciso querer ler” (Reis, 2009). É à medida que a criança vai entrando no mundo da leitura que se vai interessando por ela e, assim, vai desenvolvendo as suas competências leitoras. Desta forma, torna-se fundamental o incentivo de práticas que motivem as crianças para a leitura.

Em CASA: A Importância do Treino da Leitura | Estratégias
“A leitura alimenta-se de outras leituras”. Para promover a fluência leitora, importa proporcionar à criança muitas oportunidades (idealmente diárias) para a prática da leitura, preferencialmente em voz alta e com o modelo e a orientação de leitores fluentes, tal como os pais, que comentem as leituras e que os ajudem ativamente a tomar consciência dos seus erros e a corrigi-los.
- Incentive a criança a escolher as histórias. É importante que lhe despertem prazer e interesse. Importa apenas que contenham uma linguagem adequada à sua idade.
- Comece com textos que não impliquem grandes dificuldades à criança e lhe permitam enriquecer o seu vocabulário. Gradualmente, torna-se importante orientar as crianças a escolher textos progressivamente mais difíceis/complexos/diferentes.
- Converse com a criança sobre o título e as ilustrações dos livros, enriquecendo o seu vocabulário e ajudando-a a associar ao conteúdo da história.
- À medida que a história ou o texto vai sendo lido, faça oralmente e em conjunto com a criança pequenos resumos das ideias principais.
- Vá parando e perguntando “E depois, o que achas que vai acontecer a seguir? E como?”, de forma a aumentar a motivação e a curiosidade da criança.
- Em dias em que o cansaço é maior, leia com a criança, por exemplo, uma página/parágrafo a cada. Embora o ideal seja a criança conseguir ler a história toda, ouvir os pais a ler algumas partes da história também é muito importante, pois são o seu modelo preferencial de fluência leitora.
- Quando aparecer uma palavra mais difícil de descodificar, ensine a criança a ler sílaba a sílaba (um bocadinho de cada vez).
- Espera-se que nos diversos textos que vão sendo apresentados às crianças, surjam palavras totalmente novas e, por isso, desconhecidas, pois é assim que também se promove a amplificação e o enriquecimento do seu vocabulário. Desta forma, importa garantir que a criança identifica todas as palavras/expressões que não conhece ou não sabe o que significa. Depois, numa primeira instância, importa incentivar a criança a deduzir o significado de acordo com o contexto e o sentido da frase e do texto. Caso continue difícil, os pais deverão então explicar e exemplificar.
- No final das histórias:
- Pedir à criança para contar resumidamente a história e a sua parte preferida.
- Realizar à criança algumas perguntas de interpretação abertas, curtas e diretas (exemplos: Onde se passa a história? O que aconteceu?).
- Relacionar os episódios da história com as vivências da criança.
- Incentivar a criança a fazer um desenho sobre a história.
- Aproveite as oportunidades do dia-a-dia: ajude a criança a ler uma notícia do seu interesse na revista/jornal ou a ler uma receita de culinária. Mostre-lhe que existe escrita em todo o lado (lojas, transportes, publicidade, direções) e incentive-a ler. Procure demonstrar que ler permite aprender mais sobre as nossas personagens e jogos preferidos e trocar ideias com os nossos amigos sobre aquilo que lemos.
- Não se esqueça de elogiar o esforço e a leitura da criança, o reforço positivo é crucial!

